Poucas vezes senti tanta repugnância ao assistir uma entrevista do diretor da Aneel no Jornal Nacional, querendo justificar o aumento de 20% sobre a bandeira vermelha 2, passando a mesma para aproximadamente R$ 7,50 a cada 100 kWh.
O motivo é que grande parte dos problemas que vivemos hoje, ou seja, tarifas exorbitantes, riscos de apagões e racionamento de energia, foram causados pela desastrada gestão dos que fazem o sistema elétrico brasileiro. Tomo como exemplo a ação da Aneel sugerindo taxar a geração distribuída em mais de 60%.
A geração distribuída, como a eficiência energética, são recursos energéticos distribuídos (REDs) valiosíssimos e estratégicos, e deveriam estar sendo incentivados de todas as maneiras pelo governo como forma de melhorar o abastecimento elétrico no país. Vou citar os seguintes exemplos: Na Austrália, um país com dimensões continentais e com clima semelhante ao nosso, a geração distribuída representa 17% da capacidade de geração de energia; Na Itália a fonte solar conta com mais de 880 mil usinas e tem potência instalada de 21 GW, respondendo por 35% do consumo interno bruto do país. Nos EUA, a geração distribuída por fonte solar alcançou, em 2020, aproximadamente 28 GW de capacidade instalada, que responde geram 41,7 milhões de MWh adicionais a rede. Já aqui no Brasil a geração distribuída representa um pouco mais de 1% da capacidade de geração de energia, e está presente em 0,7% das unidades consumidoras brasileiras .
Se a geração distribuída não estivesse sendo alvo de ataques por todos os lados, representaria atualmente em geração de energia uma Hidrelétrica de Itaipu, novinha pronta para uso, com alguns detalhes adicionais: Investimentos totalmente privados, energia barata e sem impactos ambientais, sem perdas técnicas e não-técnicas de energia, sem necessidade de novas linhas de transmissão, e o que é melhor, com 70% de potência instalada nas regiões sul, sudeste e centro-oeste que sofrem com escassez de energia.
Sem falar que o segmento de geração distribuída tem 20 mil micros e pequenas empresas espalhadas por todos os municípios brasileiros, e com isso, geram empregos para mais de 200 mil trabalhadores. Outro dado muito importante é que a cada 1 MWp de potência instalada são gerados R$ 4,5 milhões de investimentos. Atualmente a geração distribuída conta com mais de 6.000 MWp implementados no Brasil e já beneficiou as economias locais com mais de R$ 25 bilhões em investimentos.
A irresponsabilidade é tamanha, que o princípio constitucional da modicidade tarifária na prestação de serviços públicos não faz mais sentido no setor elétrico do país. As consequências da incompetência, da irresponsabilidade e dos interesses menos felizes, simplesmente são repassadas na forma de aumentos nas tarifas de energia.
Simples assim, no final o povo paga a conta.
Presidente | Associação Nordestina de Energia Solar- ANESOLAR
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