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Interesse por energia solar pode impulsionar títulos verdes no Brasil

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Emissão pelos chamados green bonds ainda ocorre por preocupação reputacional das empresas, mas interesse deve crescer com o aumento no número de fundos de investimento buscando se qualificar como ESG ou verde, diz especialista

A popularidade dos títulos verdes está crescendo e, de acordo com o International Financing Review, plataforma especializada no mercado financeiro, o comércio global dos chamados green bonds em 2021 ultrapassará o total do ano passado, que foi de U$ 247,5 bilhões, ainda no primeiro semestre. No Brasil, de janeiro a março, dados mais recentes disponíveis, mais de U$ 4,6 bilhões em títulos verdes foram executados. Tanto no cenário nacional quanto no internacional, grande parte desses investimentos tem o mesmo destino: o desenvolvimento de energias renováveis, com foco na energia solar.

Em junho, o banco BV,anunciou a emissão de R$ 100 milhões em letras financeiras verdes atribuídas ao financiamento de painéis solares. Por meio desses papéis, a instituição se compromete a investir em projetos com impacto ambiental positivo no setor da energia.

A preferência por esse ramo se deve ao fato de que ela origina parte significativa do gás carbônico produzido pelo mundo: cerca de 41% das emissões mundiais de CO2 se relacionam à energia. Segundo a Agência Internacional de Energia, a chave para o enfrentamento da atual crise climática encontra-se justamente nesse setor.

Exemplo disso é a estação Noor-Ouarzazate, no Marrocos, considerada uma das maiores plantas solares do mundo. O projeto exigiu U$ 2,5 bilhões em financiamento e parte dessa quantia foi investida via títulos verdes. Os primeiros green bonds do país foram emitidos nesse contexto pela empresa Masen, focada em energia sustentável. A planta pode ajudar o Marrocos a atingir seu objetivo de ultrapassar os 40% de energia limpa entre o uso total de energia pelo país.

No Brasil, o entusiasmo por green bonds está em alta. No segundo trimestre de 2021, a empresa Sitawi Finanças do Bem emitiu pareceres sobre negócios que acumulam quase U$ 700 milhões em títulos verdes no País. Só em janeiro de 2021, foram captados U$ 2,2 bilhões em emissões de títulos verdes, valor equivalente ao total registrado em 2019, de acordo com a consultoria.

“Se o País continuar nesse ritmo, e essa é a tendência, além de se consolidar como uma potência regional, o mercado brasileiro de títulos verdes poderá se posicionar entre os dez maiores mercados do mundo em volume transacionado”, afirma Lucca Rizzo, advogado especialista em mercado de capitais. Um dos setores que mais se beneficiará com a popularização dos green bonds deve ser o energético.

“No contexto atual de taxa básica de juros ainda baixa, as companhias que desenvolvem projetos de energia renovável se beneficiam por conseguir acessar facilmente o mercado de capitais por meio da emissão de debêntures de infraestrutura, que possuem benefício fiscal, e pela possibilidade de incluir um rótulo verde em suas emissões e se aproximar de investidores ESG”, explica. Como consequência, esses projetos conseguem obter um custo de crédito mais vantajoso do que teriam se fosse contratado um crédito corporativo.

O atual interesse mundial pelas energias renováveis se justifica não só pelo sentimento de urgência trazido pelo aquecimento global, mas também por sua rentabilidade. De acordo com estudo publicado em 2020 pelo Imperial College Business Schools, o investimento em energia sustentável na Alemanha e na França trouxe retornos de 178,2% ao longo de cinco anos, em comparação com um retorno de negativos 20,7% dos investimentos em combustíveis fósseis. De forma parecida, nos Estados Unidos, o retorno foi de 200,3% para o dinheiro aplicado em energia limpa e de 97,2% para aquele aplicado em combustíveis fósseis.

O sucesso desses empreendimentos sustentáveis incentiva o crescimento da emissão de títulos verdes. Entre 2021 e 2025, cerca de € 250 bilhões serão emitidos em green bonds pelo programa NextGenerationEU (pacote de recuperação da União Europeia para apoiar os Estados atingidos pela pandemia). No Brasil, esses títulos mobilizaram U$ 1,2 bilhão em 2019, segundo a Climate Bonds Initiative – quase seis vezes mais do que em 2018.

“Nacionalmente, a procura por esses títulos ocorre mais por uma preocupação reputacional, mas esse interesse deve crescer com o aumento no número de fundos de investimento de crédito buscando se qualificar como ESG ou verde”, opina Valéria Andrade, especialista em finanças sustentáveis da Sitawi.

O cenário nacional oferece condições especialmente propícias para o investimento via títulos verdes em energia solar, a exemplo da operação do banco BV. Segundo um levantamento da consultoria Bloomberg New Energy Finance, aproximadamente 32% da energia nacional virá do sol até 2050. Para tanto, será preciso aplicar muitos recursos no ramo e nas tecnologias a ele relacionadas – grande parte do qual deverá ser investido via títulos verdes. De acordo com as estimativas da Associação Brasileira da Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), em 2021, esses investimentos devem ultrapassar os R$ 22,6 bilhões.

“Pela sua natureza, o setor de renováveis é tipicamente beneficiado por esse mercado. No Brasil, os projetos de energia solar, assim como eólica e bioenergia, já estão entre os principais alvos das emissões de títulos verdes”, afirma Beatriz Secaf, gerente de Sustentabilidade da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). “Precisamos de investimentos em tecnologias verdes, como a geração de energia solar.”

Para Valéria Andrade, o momento é extremamente favorável para focar nesse ramo. Segundo a especialista, de acordo com a base de dados da Sitawi, cerca de 25% dos títulos verdes emitidos no Brasil são referentes ao setor da energia verde. “O investimento em energias não renováveis pode representar um risco para o Acordo de Paris e para a necessidade de descarbonização, e existe uma expectativa que esses ativos se tornem obsoletos no futuro”, afirma. “Assim, além de trazer um risco reputacional, esse comportamento pode trazer também um risco financeiro, o que só valoriza ainda mais a procura de títulos verdes de energias renováveis.”

Já é possível enxergar resultados da recente aplicação de capital no setor no Brasil. Em junho, o País superou as 500 mil conexões de geração própria de energia solar.

Ao mesmo tempo, a conta de luz mais cara leva consumidores a buscar a energia solar como alternativa. De acordo com levantamento do Portal Solar, entre janeiro e maio, o interesse em projetos de geração distribuída (expressão que define a eletricidade gerada perto do local de consumo abrangendo diversas fontes de energia renovável) cresceu em 117%. Com isso, o portal projeta o surgimento de 5,4 mil novas empresas focadas em projetos focados em energia solar fotovoltaica no Brasil.

Fonte: Estadão

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