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O Sol, o Vento e os Dinossauros

A batalha entre energia fóssil e energia limpa está em andamento. Os interesses entrincheirados do petróleo e gás estão fazendo tudo o que podem para impedir o desenvolvimento da energia renovável. É vida ou morte para eles.

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Por Daniel Lima (Economista e Liderança do iMSL)

Foto Divulgação

Uma matéria publicada na revista Forbes (link no final do artigo), informa que as empresas de combustíveis fósseis estão fazendo todo o possível para impedir o crescimento das energias renováveis. Segundo a matéria, um diretor da empresa americana INVENERGY, afirma que “a batalha entre energia fóssil e energia limpa está em andamento. Os interesses entrincheirados do petróleo e gás estão fazendo tudo o que podem para impedir o desenvolvimento da energia renovável. É vida ou morte para eles.”

Segundo geólogos, viramos uma página da história do nosso planeta, inaugurando um novo período geológico, o Antropoceno, ou seja, a era geológica de dominância dos impactos humanos sobre a Terra. Esse período sucedeu o Holoceno, marcado por grande estabilidade climática. Porém não há o que comemorar, ao exercemos tal protagonismo é porque somos responsáveis por mudanças no ambiente tão dramáticas e extraordinárias que equivalem ao impacto de um imenso meteorito contra a superfície da Terra. Só que desta vez este impacto está colocando em risco a sobrevivência da raça humana no planeta.

Nossas ações alteraram o meio físico, deixando uma série de assinaturas em cada metro quadrado na superfície e no fundo dos oceanos. Através dessas marcas, os geólogos identificaram os impactos da civilização industrial, os elementos radioativos que surgiram com a explosão das bombas atômicas e do plástico que se acumula em toda parte. Nada disso estava no ambiente nos 4,5 bilhões de anos do planeta, essas são marcas exclusivamente humanas.

Mas, voltando ao tema energia, segundo cientistas que estudam mudanças do clima, a utilização de combustíveis fósseis para geração de energia parece não ser o melhor caminho para o futuro de nosso planeta, é melhor deixarmos a maior parte desses recursos enterrados, só utilizando os mesmos para a produção de produtos de altíssimo valor agregado. Para esses cientistas, a velocidade com que vamos descarbonizar o sistema econômico determinará o quanto o planeta vai aquecer.

Um estudo publicado no periódico científico Nature Communications analisou os benefícios da descarbonização do setor de energia, um dos setores que mais emitem poluentes na atmosfera atualmente. Os autores sugerem que, a adoção de fontes renováveis de geração de energia pode reduzir em até 80% as emissões de carbono até 2050.

Segundo projeção da Agência Internacional de Energia (International Energy Agency, ou IEA na sigla em inglês), a solar fotovoltaica será a fonte energética número um do mundo até 2035. As energias renováveis fornecerão a maior parte do crescimento projetado para o Planeta, e como consequência, a primeira vítima da transição energética está sendo o carvão, o que é muito positivo para o clima. O petróleo e o gás natural também estão sendo espremidos nos mercados de exportação.

Um estudo internacional realizado pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF) projeta que, em 2050, 62% da energia mundial deve vir de fontes renováveis, sendo que as fontes solar e eólica responderão por 50% e as fósseis por 31%. Mudamos de um mundo onde nas décadas passadas 70% da energia provinha de combustíveis fósseis. O mundo vem adicionando mais capacidade de energia renovável do que a capacidade de combustível fóssil desde 2015. Em 2019, a indústria bateu todos os recordes com a adição de 121 GW de solar e 67 GW de eólica.

A transição energética das próximas três décadas representa uma oportunidade de US$ 13 trilhões em investimentos no mundo, dos quais 85% deverão ir para energias renováveis. No Brasil, devem ser investidos US$ 155 bilhões em nova capacidade até 2050, dos quais 98% em renováveis, com 40% direcionados para a geração distribuída de energia. A capacidade de geração total de energia no país vai aumentar cerca de 3 vezes até 2050, sendo que a fonte solar deve ter um aumento de 15 vezes e a eólica de 6 vezes.

O estudo [R]evolução Energética 2016, do Greenpeace, indica como o Brasil poderá abandonar aos poucos as fontes fósseis de energia e chegar à metade deste século com 100% de sua matriz energética verdadeiramente limpa e renovável. As vantagens passam por zerar as emissões de gases de efeito estufa no setor energético, pela conservação dos recursos naturais, por contas de luz mais baratas para a população, mais segurança para o fornecimento de eletricidade e menos riscos de apagões. Uma transição energética em direção às renováveis é urgente se quisermos de fato combater as mudanças climáticas e ter um país com melhor acesso à energia.

Neste cenário, teremos todas as condições no Brasil de alcançarmos uma matriz elétrica totalmente limpa, onde a energia utilizada durante o dia será proveniente predominantemente de fonte solar, e durante a noite será utilizado os recursos das fontes hídrica e eólica por serem as mais baratas e gerarem neste horário. As térmicas passarão a cumprir verdadeiramente o seu papel de backup do sistema, só devendo ser utilizadas em momentos emergenciais.

Mas, parece que a guerra mencionada no início deste artigo chegou também ao Brasil. A indústria fóssil com seu imenso poder, induz segmentos do governo para apostarem na utilização das fontes fósseis como base energética. Defendem com unhas e dentes a ampliação do uso de usinas térmicas apostando no gás do pré-sal. Nesse aspecto alguns questionamentos merecem atenção. Será que o gás do pré-sal tem abundância e custo para ser um novo “breaking point” da matriz do país? E a resposta é muito simples, o gás do pré-sal terá uma variação muito grande em seu preço, em virtude da distância das áreas de extração, que quanto mais distantes demandam uma infraestrutura mais cara para transporte do mesmo, onerando sobremaneira seu preço. Outro aspecto é o grau de pureza ou qualidade do gás extraído, que varia em virtude do teor de CO2.

Enquanto o Mundo adere as fontes limpas e renováveis, no Brasil ainda propõe-se utilizar usinas nucleares, como opção para reduzir a dependência de sua matriz energética de hidrelétricas. Para alguns, as reservas brasileiras de óleo e gás garantem para o mercado nacional um potencial enorme de atração para investidores estrangeiros no setor, inclusive para o mercado de gás não convencional, e podem levar o Brasil nos próximos anos a se tornar um dos maiores produtores de óleo e gás do mundo.

Seguindo essa linha, o Governo divulgou o PDE 2029, que indica investimentos para os próximos 10 anos no setor de energia da ordem de R$ 2,3 trilhões, sendo R$ 1,9 trilhões em petróleo, gás natural e biocombustíveis e R$ 456 Bilhões em geração e transmissão de energia elétrica. O PDE fornece sinais “racionais” e claros para orientar a tomada de decisão dos agentes privados.

Será que é racional, nesta altura do campeonato, apostar a imensa maioria das nossas fichas nos combustíveis fósseis? Será que não estamos indo na contramão do Mundo? A quem interessa que o Brasil continue como depósito de tecnologias descartadas pelos países desenvolvidos? São questionamentos que devem ser respondidos com clareza, pois o nosso futuro nesse planeta depende das escolhas que fizermos hoje.

Mas, esquecem os formuladores de políticas públicas que, quem manda no mercado são os consumidores, e para estes, a tecnologia solar já se tornou a solução definitiva para acabar com as altas contas de luz e uma proteção contra os aumentos no preço da energia. No Brasil, mais de 190 mil consumidores já investiram na tecnologia solar, somando mais de 2,2 GW de potência ao sistema elétrico. Já foram investidos aproximadamente R$ 10 bilhões, 100% privados, em geração distribuída por todo o país.

A queda nos custos dessa tecnologia, que registrou depreciação de mais de 70% nos últimos 10 anos, também segue como tendência na indústria e deverá cortar os preços pela metade até 2030. Entre os caminhos para isso estão as pesquisas em módulos de maior eficiência, que podem gerar 1,5 vezes mais energia do que as placas similares existentes atualmente. Com todos esses avanços, a energia solar segue para um futuro onde se tornará a fonte mais barata para geração elétrica do mundo, mesmo comparada aos combustíveis fósseis.

Junto a sua flexibilidade de projetos e facilidade de instalação, todos esses fatores continuarão fazendo com que o número de instalações solares cresça pela próxima década no mundo.

Outro fator de grande impacto, são os veículos elétricos que aumentarão a demanda por energia e alterarão a curva de carga horária. Esses veículos devem avançar tanto que, segundo o BNP (Paribas Asset Management), os modelos com motor a combustível fóssil só serão competitivos se o preço do petróleo permanecer abaixo dos US$10 por barril.

O mercado de veículos elétricos tem potencial para atingir 14% da frota mundial até 2030, reduzindo a demanda por óleo em 1 milhão de barris por dia, de acordo com projeções da consultoria Wood Mackenzie.

Mais diante de tudo isso o consumidor do futuro viverá em um novo ambiente, com liberdade de escolha, novas tecnologias que facilitam maior resposta do lado da demanda, e novos prestadores de serviços que poderão auxiliá-lo na gestão do seu consumo de energia. Ao mesmo tempo, soluções baseadas na Internet das Coisas, que permite o gerenciamento automatizado de equipamentos, somadas aos veículos elétricos e as baterias domésticas, devem gerar um novo padrão de consumo, mais econômico e adequado aos melhores horários.

Paralelamente, as empresas de petróleo devem dar uma guinada radical em suas estratégias globais. A Shell, por exemplo, já anunciou que tem a meta de se tornar a maior empresa de energia elétrica do mundo até 2030. 

Os serviços de energia também mudarão. Migrarão do atual modelo onde são controlados por monopólios que detém a propriedade de linhas de transmissão, redes de distribuição e medidores de energia em suas áreas de forma verticalizada, onde o consumidor é obrigado a pagar por toda essa estrutura. Para um modelo onde, cada vez mais as pessoas poderão pagar apenas pelo que se utiliza. Nesse cenário futuro, além de produzir e estocar sua própria energia, as pessoas consumirão menos eletricidade (com equipamentos inteligentes e mais eficientes) e comercializarão seus excedentes. 

A pergunta que se faz aos formuladores de políticas públicas do nosso país é: faremos opção pelas fontes limpas, inesgotáveis, sem risco e de baixíssimo custo; ou, seguiremos com as fontes sujas, escassas, caras e de alto risco que foram originadas pela decomposição originada na era dos dinossauros?

(https://www.forbes.com/sites/jeffmcmahon/2020/02/02/its-time-for-solar-and-wind-to-fight- back-in-fossils-war-on-renewables/amp/)

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