12 de julho de 2025
Por Hewerton Martins, Presidente do Movimento Solar Livre
“Estamos vivendo um verdadeiro paradoxo energético no Brasil.”
Enquanto o mundo disputa cada megawatt para mover data centers e indústrias verdes, o Brasil, um dos países com maior potencial solar e eólico do planeta, desperdiça energia limpa aos montes, penaliza quem gera a própria energia e empurra toda a sociedade para tarifas mais caras, sem oferecer planejamento, segurança ou justiça ao consumidor.
Em 2024, as grandes usinas centralizadas de energia solar e eólica (as centrais em parque) foram alvo de cortes: o ONS registrou 4.330 GWh de energia limpa desperdiçada, simplesmente porque faltam linhas de transmissão e capacidade de armazenamento.
Isso representa energia suficiente para abastecer cerca de 2,2 milhões de residências por um ano, com base no programa social que distribui 80 kWh/mês a famílias do CadÚnico (MP 1.300).
Mas, em vez de transformar essa abundância em benefício ao cidadão, o governo prefere acionar termelétricas, impor bandeira vermelha na tarifa e agora mira os pequenos geradores distribuídos (as placas solares no telhado), com uma proposta absurda do Ministério da Fazenda (Haddad), para incluir a MMGD nos cortes contábeis — em total descompasso com a Lei 14.300, que garante o direito à compensação da energia solar.
Enquanto isso, o consumidor final já paga a “taxação do fio” prevista no marco legal, enfrenta reprovações indevidas por “inversão de fluxo” nas conexões e luta por uma simples autorização para gerar energia em casa. Pequenas empresas, escolas e comércios usam o solar como estratégia de sobrevivência frente a uma tarifa que beira o absurdo, mas são tratados como parte do problema.
E não é só o residencial: a indústria brasileira também é penalizada, perdendo competitividade com tarifas elevadas. E até o setor de grande porte sofre: grandes parques solares e eólicos estão sendo desligados, mesmo com contratos firmados, por falta de infraestrutura.
“Este problema não é técnico, é político.”
Dentro do Congresso, essa crise vem se intensificando. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, disparou críticas diretas ao ministro Alexandre Silveira por falta de planejamento energético e por ações que penalizam toda a sociedade. Em sessão plenária, Alcolumbre declarou:
“Chega de narrativas manipuladas e terrorismo tarifário… Não há aumento tarifário. Há, sim, compromisso com a modicidade tarifária, com o equilíbrio federativo, com a inovação e com o futuro do setor elétrico nacional.”
(valor.globo.com, eixos.com.br)
O embate é claro: Alcolumbre, que já pediu a saída do ministro por ignorar demandas da Casa e do setor, acusa o governo de tentar transferir os prejuízos pela falta de infraestrutura ao consumidor. É um conflito explícito, que sinaliza uma crise institucional cada vez mais grave.
“O governo desperdiça o insumo estratégico do século XXI.”
Enquanto isso, em Londres e no Reino Unido, empresas como Octopus Energy e E.ON Next aplicam tarifas dinâmicas: quando sobra energia renovável, o preço cai — às vezes até zero — incentivando o consumo e premiando quem ajuda na estabilidade da rede.
No Brasil, quando sobra energia, o preço sobe. Não há estratégia, não há política, não há visão. Hidrelétricas nem são usadas como baterias naturais, armazenamento é ignorado e linhas de transmissão são deixadas para depois.
“Isso não é escassez de energia, é escassez de visão.”
A pergunta que fica ecoando é simples:
É isso mesmo? Esse é o caminho?
Ou vamos continuar penalizando quem gera com suor e investimento? Vamos manter os pequenos, grandes, indústrias e centros vulneráveis pagando pela falta de planejamento de quem deveria cuidar do país?
É hora de transformar a abundância em energia limpa, barata e justa, e recuperar o futuro que já está sendo desperdiçado.