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Prefeitura de SP entra na Justiça para impedir renovação automática da concessão da Enel

Prefeitura de SP entra na Justiça para impedir renovação automática da concessão da Enel

São Paulo,11 de Agosto de 2025 – A Prefeitura de São Paulo ajuizou uma Ação Civil Pública na Justiça Federal nesta quarta-feira (6) para impedir a renovação automática da concessão da Enel, distribuidora de energia elétrica responsável pelo serviço na capital. 

O contrato atual se encerra em 2028, mas a administração municipal cobra uma reformulação nos critérios de avaliação da empresa antes que qualquer renovação seja considerada.

A Enel Distribuição São Paulo detém uma concessão federal gerida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para distribuir energia elétrica em 24 municípios da região metropolitana, incluindo a capital, atualmente atendendo cerca de 8 milhões de pessoas.

A decisão ocorre após anos de queixas e apagões recorrentes desde que a multinacional italiana assumiu o controle da antiga Eletropaulo, em 2018. 

Segundo a prefeitura, as falhas se intensificam durante chuvas e vendavais, deixando bairros inteiros sem luz por vários dias — inclusive locais essenciais, como hospitais, escolas e abrigos.

“A população não pode continuar à mercê da omissão e da ineficiência de uma concessionária que ignora nossas particularidades ambientais e urbanas”, disse a procuradora-geral do município, Luciana Sant’Ana Nardi. 

“Não é possível aceitar a prorrogação automática da concessão sem garantias de um serviço à altura da maior cidade do país”, completou.

Em nota, a Enel informou que “cumpre com os indicadores previstos no contrato de concessão e tem realizado uma série de melhorias para aprimorar de forma contínua o serviço prestado. Com o reforço estrutural do plano operacional, que incluiu a contratação de 1.200 novos eletricistas, de novembro a março, a Enel reduziu em 50% o tempo médio de atendimento (TMA), registrando o melhor indicador dos últimos anos” (veja a íntegra abaixo).

A ação judicial mira a União e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsáveis pela regulação do setor, cobrando que as especificidades ambientais, urbanas e climáticas de São Paulo sejam consideradas na avaliação da concessionária. 

A prefeitura argumenta que os atuais critérios de desempenho não consideram, por exemplo, a densa arborização da cidade nem o impacto das mudanças climáticas, como fortes chuvas e vendavais. 

Procurada, a Aneel não se manifestou sobre a ação até a última atualização desta reportagem.

Riscos

A capital paulista tem mais de 650 mil árvores em vias públicas, sendo mais de um terço delas localizadas na chamada “zona controlada” da rede elétrica, cuja manutenção é responsabilidade da Enel. 

Diretor de Operações da Enel fala sobre a falta de energia na região Central de SP 

A gestão municipal acusa a empresa de negligência. Segundo a prefeitura, milhares de pedidos de poda e remoção de árvores feitos pelas subprefeituras estariam sendo ignorados, aumentando o risco de quedas durante tempestades.

Na semana passada, a Enel afirmou que vem intensificando suas ações preventivas de poda de árvores em toda a área de concessão, com foco na continuidade do fornecimento de energia. 

Segundo a empresa, no primeiro semestre de 2025, foram executadas cerca de 372 mil podas, sendo quase 150 mil apenas na cidade de São Paulo.

Já a prefeitura afirma que, entre 2021 e 2024, foram plantadas mais de 200 mil árvores e que somente em 2024 foram realizadas mais de 163 mil podas preventivas. Pelo quarto ano seguido, São Paulo recebeu o título de “Cidade Árvore do Mundo” da ONU.

Em 2024, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), cobrou intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para romper o contrato com a Enel.

Na época, a prefeitura se disse “indignada com a falta de respeito da Enel com a população de São Paulo” após frequentes problemas de falta de energia na cidade.

Contrato

O contrato de concessão da Enel vence em 2028, mas em março deste ano a Enel e outras distribuidoras pediram à Aneel a prorrogação das concessões por 30 anos.

Isso abriu espaço para que a Enel e outras distribuidoras renovassem antecipadamente seus contratos que venceriam entre 2025 e 2031. 

Na ação desta quarta, a administração paulistana pede:

  • A suspensão da renovação automática da concessão da Enel;
  • A criação de um plano de contingência específico para a capital;
  • Metas claras de atendimento e punições em caso de descumprimento;
  • A revisão dos critérios técnicos, operacionais e ambientais de avaliação da concessionária.

A Prefeitura de São Paulo afirmou que continuará pressionando por melhorias na qualidade dos serviços públicos prestados à população, com foco na proteção ambiental e na adaptação às mudanças climáticas.

O que diz a Enel

“A Enel Distribuição São Paulo reitera seu forte compromisso com os 8 milhões clientes da área de concessão, que inclui a capital e 23 municípios. A companhia cumpre com os indicadores previstos no contrato de concessão e tem realizado uma série de melhorias para aprimorar de forma contínua o serviço prestado. Com o reforço estrutural do plano operacional, que incluiu a contratação de 1.200 novos eletricistas, de novembro a março, a Enel reduziu em 50% o tempo médio de atendimento (TMA), registrando o melhor indicador dos últimos anos. 

Além de ampliar a contratação de profissionais próprios para atuação em campo, a companhia ampliou as manutenções preventivas e as podas de galhos em contato com a rede elétrica. Apenas no ano passado, a distribuidora realizou mais de 600 mil podas, o dobro do realizado em 2023. Este ano, até o momento, já foram realizadas mais 370 mil podas, sendo cerca de 150 mil na capital. A companhia acrescenta que realiza reuniões frequentes com representantes da prefeitura de São Paulo e dos demais municípios para acompanhamento do trabalho realizado. 

A distribuidora também vem ampliando de forma constante e significativa os investimentos. De 2025 a 2027, a companhia está investindo R$10,4 bilhões, montante recorde para a região, em função do avanço dos eventos climáticos. O investimento será destinado à melhoria, reforço, digitalização e expansão do sistema de distribuição.”

Fonte : SPTV